o que nem sempre é dito, mas deveria ser

Hoje é meu aniversário. Desde criança, essa data mexe comigo. Ficava frustrada quando criança por não ter oportunidade de chamar os amigos da escola para festinha, pois não tinha aula e todos estavam viajando. Mais irritada ainda ficava com a mania de dizerem que então não seria preciso presente de Natal, ou de aniversário, já que as duas datas praticamente coincidiam. Ou seja, nunca tive oportunidade de comemorar aniversário como todo mundo.

Cresci e a passagem do tempo começou a ter outro significado para mim. Na adolescência, seria a ponte que me levaria à idade adulta, quando eu poderia fazer um monte de coisas que me eram proibidas (como assistir todos os filmes que eu gostaria de ver). Na juventude, era a confirmação de que eu já era merecedora de respeito por parte de todos já que eu tinha me transformado em um ser humano por completo (ou, na linguagem popular, eu já era “de maior”).

Alguns anos mais tarde, na passagem para os 30 anos, o tempo passou a me aterrorizar um pouco. Não sabia o que poderia esperar, mas todos diziam que o declínio da vida viria em seguida. Depois de mais algum tempo, descobri que isso era mentira. Pelo contrário, acho que somente nesta fase é que aprendi que a vida pode ser muito mais prazeirosa depois que se percebe que as coisas que davamos importância demasiada não são tão importantes assim. Por exemplo, quando somos adolescentes, achamos que um fora do(a) namorado(a) é o que de pior pode acontecer em nossas vidas. Aos 40 anos, vemos que isso não passa de uma bobagem e que há muitas coisas maravilhosas que vieram depois – inclusive namorados(as) mais interessantes.

Nessa fase, tive a maior das descobertas de minha vida: envelhecer é bom, pois adquire-se maturidade e a passagem dos anos fica mais tranquila. Costumava dizer a mim mesma:“se aos 20 anos eu tivesse a cabeça que tenho hoje, minha vida teria sido bem diferente, e bem melhor.” Em suma, ganhei contentamento.

E conforme fui me aproximando dos 50, verifico que a vida encontra uma espécie de encruzilhada nesse ponto, já que as pessoas costumam tomar caminhos distintos. É aqui que a existência humana toma uma decisão fundamental sobre o rumo que deverá seguir: ficar se lamentando pelo que não se fez e pelas alterações físicas que acontecessem nessa fase da vida ou abrir mão de muitas crenças que só nos atrapalharam até aqui (inclusive a de que inevitavelmente ficaremos velhos, doentes e solitários). Obviamente, eu escolhi a segunda alternativa.

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